Ele tem 17.700 frascos de desinfetante para as mãos e nenhum lugar para vendê-los – 14/03/2020 – Mercado

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Em 1º de março, dia seguinte ao anúncio da primeira morte por coronavírus nos Estados Unidos, os irmãos Matt e Noah Colvin saíram em um SUV prateado para comprar desinfetante para as mãos.

Dirigindo por Chattanooga, no Tennessee, eles chegaram a um supermercado Dollar Tree, depois um Walmart, um Staples e um Home Depot. Eles limparam as prateleiras de todos.

Nos três dias seguintes, Noah Colvin viajou 2 mil quilômetros por Tennessee e Kentucky, enchendo um caminhão de aluguel com milhares de frascos de desinfetante para as mãos e milhares de embalagens de lenços antibacterianos, principalmente de “pequenas lojas de pechinchas em cidades do interior”, disse seu irmão. “As principais áreas metropolitanas foram limpas.”

Matt Colvin ficou em casa perto de Chattanooga, preparando-se para carregamentos de mais lenços e desinfetantes que havia encomendado, e começando a oferecê-los na Amazon. Colvin disse que colocou 300 frascos de desinfetante para as mãos e imediatamente os vendeu por entre US$ 8 e US$ 70 cada, muitas vezes mais do que havia pago. Para ele, “era um dinheiro louco”. Para muitos outros, era lucrar com a pandemia.

No dia seguinte, a Amazon retirou seus artigos e milhares de outras ofertas de desinfetantes, lenços e máscaras. A empresa suspendeu alguns dos vendedores desses produtos e alertou muitos outros que, se continuassem subindo os preços, perderiam as contas.

O eBay logo seguiu com medidas ainda mais rigorosas, proibindo qualquer venda de máscaras ou desinfetantes nos EUA.

Agora, enquanto milhões de pessoas buscam em vão por desinfetante para as mãos para se proteger da propagação do coronavírus, Colvin está sentado sobre 17.700 frascos do produto, com pouca ideia de onde vendê-los.

“Foi uma quantidade enorme de chicotadas”, disse ele. “Estar em uma situação em que o que eu tenho para vender poderia colocar minha família em uma ótima posição financeira para ‘Que diabos vou fazer com tudo isso?'”

Colvin é provavelmente um dos milhares de vendedores que acumularam estoques de desinfetante para as mãos e máscaras para respirador que muitos hospitais estão racionando, de acordo com entrevistas com oito vendedores da Amazon e posts de dezenas de outros em grupos privados no Facebook e no Telegram.

A Amazon disse que recentemente removeu centenas de milhares de ofertas e suspendeu as contas de milhares de vendedores por manipulação de preços relacionada ao coronavírus.

Amazon, eBay, Walmart e outras plataformas de comércio online estão tentando impedir que os vendedores obtenham lucros exagerados com uma crise de saúde pública.

Enquanto as empresas pretendiam desencorajar as pessoas a acumular esses produtos e aumentar seus preços, muitos vendedores já tinham limpado as lojas locais e começado a vender os produtos on-line.

Agora, as prateleiras físicas e digitais estão quase vazias.

Mikeala Kozlowski, enfermeira em Dudley, Massachusetts, está procurando desinfetante para as mãos desde antes de dar à luz sua primeira filha, Nora, em 5 de março. Quando ela procurou o produto nas lojas e estava esgotado, parou de usar gasolina para evitar pegar na bomba. E quando ela verificou na Amazon não conseguiu encontrá-lo por menos de US$ 50.



“Vocês são egoístas, acumulam recursos para seu próprio ganho pessoal”, disse ela sobre os vendedores.

Sites como Amazon e eBay deram origem a uma crescente indústria de comerciantes independentes que compram produtos com desconto ou difíceis de encontrar nas lojas para postar on-line e vender em todo o mundo.

Inicialmente, a estratégia funcionou. Durante várias semanas, os preços subiram em alguns dos principais resultados de pesquisas por desinfetantes, máscaras e lenços higiênicos na Amazon, de acordo com uma análise do New York Times sobre os preços históricos do Jungle Scout, que rastreia dados de vendedores da Amazon.

Os dados mostram que tanto a Amazon quanto os vendedores terceirizados, como Colvin, aumentaram seus preços, que em geral caíram depois que a Amazon tomou medidas contra a manipulação, neste mês.

Com os preços altos, as pessoas ainda compravam os produtos em massa, e a Amazon recebia cerca de 15% do valor, e o eBay, aproximadamente 10%, dependendo do preço e do vendedor.

Então as empresas, pressionadas pelas críticas crescentes de reguladores e clientes, recuaram. Depois das medidas tomadas na semana passada, a Amazon foi mais longe na quarta-feira (11), restringindo as vendas por determinados vendedores de quaisquer produtos relacionados ao coronavírus.

“A manipulação de preços é uma clara violação de nossas políticas, antiética e, em algumas áreas, ilegal”, afirmou a Amazon em comunicado. “Além de encerrar essas contas de terceiros, apreciamos a oportunidade de trabalhar diretamente com os procuradores-gerais do estado para processar os maus atores.”

Colvin, 36, ex-sargento técnico da Força Aérea, disse que começou a vender na Amazon em 2015, transformando a atividade em uma profissão com renda de seis dígitos, vendendo calçados Nike e brinquedos para animais e seguindo as tendências.

No início de fevereiro, quando as manchetes anunciaram a disseminação do coronavírus na China, Colvin viu uma chance de capitalizar. Uma empresa de liquidação nas proximidades estava vendendo 2 mil “kits de pandemia”, sobras de uma empresa extinta. Cada um tinha 50 máscaras, quatro pequenos frascos de desinfetante para as mãos e termômetro. O preço era de US$ 5 por pacote. Colvin pechinchou para US$ 3,50 e comprou todos.

Ele vendeu rapidamente os 2.000 pacotes de 50 máscaras no eBay, com preços entre US$ 40 e US$ 50 cada, às vezes mais. Ele se recusou a divulgar seu lucro, mas disse que foi substancial.

O sucesso alimentou seu apetite. Quando ele viu o público em pânico começar a atacar desinfetantes e lenços, ele e seu irmão começaram a estocar.

Em outros lugares, outros vendedores da Amazon estavam fazendo o mesmo.


Chris Anderson, um vendedor da Amazon no centro da Pensilvânia, disse que ele e um amigo dirigiram por Ohio, comprando cerca de 10 mil máscaras nas lojas. Ele usou cupons para comprar pacotes de dez por cerca de US$ 15 cada e os revendeu por US$ 40 a US$ 50. Após a porcentagem da Amazon e outros custos, ele estima que obteve um lucro de US$ 25 mil.

Anderson agora está com 500 pacotes de lenços antibacterianos depois que a Amazon o impediu de vendê-los por US$ 19 cada, contra US$ 16 semanas antes. Ele comprou os pacotes por US$ 3 cada.

Para reguladores e muitos outros, os vendedores estão sentados sobre um estoque de suprimentos médicos durante uma pandemia.

Os gabinetes dos procuradores-gerais da Califórnia, de Washington e Nova York estão investigando a manipulação de preços relacionada ao coronavírus. A lei de preços da Califórnia impede os vendedores de aumentá-los mais de 10% depois que as autoridades declaram uma emergência. A lei de Nova York proíbe os vendedores de cobrar um “preço insensatamente excessivo” durante emergências.

Um funcionário do gabinete do procurador-geral de Washington disse que a agência acredita que poderá aplicar a lei de proteção ao consumidor do estado para processar plataformas ou vendedores, mesmo que eles não estejam em Washington, se tentarem vender para os residentes de Washington.

Colvin não acredita que estava manipulando preços. Enquanto ele cobrava US$ 20 na Amazon por dois vidros de Purell que custam US$ 1 cada, disse que as pessoas esquecem que seu preço inclui o trabalho, as taxas da Amazon e cerca de US$ 10 de frete. (O desinfetante à base de álcool custa caro de remeter, porque as autoridades o consideram um material perigoso.)

As leis atuais sobre manipulação de preços “não são feitas para os dias de hoje”, disse Colvin. “Elas foram feitas para o posto de gasolina que dobra o valor que cobra durante um furacão.”

Ele acrescentou: “Só porque me custou US$ 2 na loja não significa que não me custará US$ 16 para levá-lo até a sua porta”.

Mas e a moralidade de acumular produtos que podem impedir a propagação do vírus, apenas para obter lucro?

Colvin explicou que estava simplesmente solucionando “ineficiências do mercado”. Algumas áreas do país precisam mais desses produtos do que outras, e ele está ajudando a enviar o suprimento para a demanda.

“Há uma demanda esmagadora em certas cidades no momento”, disse ele. “A loja no meio do nada perto de Lexington, no Kentucky, não tem isso.”

Ele pensou melhor a respeito.

“Sinceramente, sinto que é um serviço público”, acrescentou. “Estou sendo pago pelo meu serviço público.”

Quanto ao seu estoque, Colvin disse que agora provavelmente tentará vendê-lo localmente.

“Se eu conseguir lucrar um pouco, ótimo”, disse. “Mas não quero estar na situação de sair na primeira página do jornal como o cara que estocou 20 mil vidros de desinfetante e está vendendo 20 vezes mais caro do que custaram.”

Depois que The New York Times publicou este artigo, na manhã de sábado (14), Colvin disse que estava avaliando maneiras de doar todos os suprimentos.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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