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Talvez você não tenha percebido, mas na semana passada Donald Trump sugeriu que poderá dar aos agricultores americanos —que ainda não viram qualquer benefício de seu muito alardeado acordo comercial com a China— mais uma rodada de ajuda governamental.
Esta seria além dos bilhões em ajuda agrícola que Trump já forneceu, custando aos contribuintes várias vezes mais que o socorro de Barack Obama à indústria de automóveis —ajuda que os republicanos denunciaram ferozmente na época como “bem-estar social” e “capitalismo entre amigos”.
Se isso lhe parece um critério duplo —ajudas democratas ruins, ajudas republicanas boas—, é porque é.
Mas deve ser visto como parte de um padrão mais geral de inacreditável hipocrisia fiscal, em que o Partido Republicano passou de insistir que a dívida federal representava uma ameaça existencial sob Obama para uma total indiferença aos déficits orçamentários de Trump. Essa virada de 180 graus é, até onde posso ver, a mais cínica inversão de política pública nos tempos modernos.
E esse cinismo poderá ganhar a eleição para Trump.
Se ele realmente vencer, haverá muitas recriminações entre os democratas, especialmente sobre os candidatos vaidosos que continuam fragmentando o campo eleitoral, apesar de não terem chance real de ser nomeados.
Mas, enquanto essas recriminações serão muito verdadeiras para eles, o maior fator a favor de Trump é a economia forte —não tão forte quanto ele afirma, mas boa o suficiente para fornecer um empuxe político significativo (a menos que o crescimento seja perturbado pelo coronavírus).
E o que está movimentando a economia dos EUA hoje é o próprio gasto deficitário com o qual os republicanos fingiram estar horrorizados durante o governo Obama.
Trump gosta de difamar a economia de Obama. Na realidade, a partir de 2010, os EUA experimentaram um crescimento constante do PIB e do emprego —e não houve uma aceleração da tendência depois de 2016. Mas a recuperação da recessão de 2007-09 poderia e deveria ter sido mais rápida.
O que retardou a recuperação? A austeridade fiscal sem precedentes. Em particular, os gastos do governo cresceram muito mais lentamente durante a recuperação de Obama do que sob George W. Bush ou Ronald Reagan.
A austeridade fiscal prejudica o crescimento? Sim. Vimos esse fato ser demonstrado diversas vezes na última década, mais recentemente no Japão, onde uma iniciativa mal planejada do primeiro-ministro Shinzo Abe para reduzir o déficit orçamentário fez a economia despencar em um ritmo anual de 6%. E a austeridade do governo Obama definitivamente retardou a recuperação; sem aqueles cortes de gastos, o desemprego poderia ter caído a 4% já em 2014.
Então quem foi responsável por toda essa austeridade? A resposta é, avassaladoramente, os congressistas republicanos. Lembre-se, eles ameaçaram causar uma crise financeira recusando-se a aumentar o limite da dívida a menos que Obama cortasse os gastos.
Mais uma vez, eles insistiram que a austeridade era essencial porque a dívida do governo era uma enorme ameaça para os EUA. Mas perderam todo o interesse pelos déficits assim que um deles ocupou a Casa Branca. Trump herdou um déficit de US$ 600 bilhões (R$ 2,6 trilhões); ele o explodiu para US$ 1 trilhão (R$ 227,6 trilhões), e quase nenhum congressista republicano manifestou apreensão.
O quanto os déficits de Trump reforçaram a economia? Bem, eles são um estímulo mal planejado; o maior item foi o corte de impostos para as corporações, que estas usaram para recomprar ações em vez de expandir seus negócios ou aumentar os salários. Enquanto o estímulo de Trump provavelmente não produziu muito por dólar, porém, envolveu uma quantidade incrível de dólares.
E a economia de Trump também recebe uma ajuda no fato de os republicanos terem encerrado a verdadeira sabotagem econômica que prevaleceu na era Obama.
Incidentalmente, a experiência dos últimos três anos também refuta dois dos principais argumentos usados para justificar o desastroso recurso à austeridade depois da crise financeira —alegações de que os déficits prejudicariam a confiança e levariam a um grande aumento das taxas de juros. Nada disso aconteceu.
Então como os democratas podem contestar a hipocrisia fiscal republicana? Não advertindo sobre os perigos dos déficits —isso é ao mesmo tempo errado em substância e politicamente ineficaz, porque ninguém se importa.
Eles fariam melhor ao indicar que enquanto Trump corria para cortar os impostos das corporações e dos ricos ele estava boicotando o futuro. Ignorando suas promessas de campanha, ele nada fez para aumentar os tão necessários gastos em infraestrutura.
E apesar de sua óbvia indiferença pelos déficits orçamentários seu governo parece decidido a privar as crianças do atendimento de saúde e da alimentação adequados de que elas precisarão para se tornarem adultos produtivos.
E há uma importante lição para os democratas que vai além desta eleição —como lidar com o que eu chamei de Pessoas Muito Sérias— os centristas que passaram anos insistindo que a dívida do governo era a questão mais importante de nossa época (e também acreditando, ou fingindo acreditar, que os republicanos eram sinceros em sua suposta preocupação sobre a dívida).
As PMS ficaram estranhamente caladas sob Trump —engraçado como isso funciona—, mas certamente voltarão se os democratas retomarem a Casa Branca. Mas elas não têm ideia do que estão falando, e nunca tiveram. Se e quando elas reaparecerem, os democratas deverão ignorá-las.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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